Quarta-feira, 11 de Fevereiro de 2009

As preocupações (em retrospectiva)

Não sei se isto acontece com todas as mulheres (ou pelo menos quando se trata do primeiro filho), mas notei que ao longo destes nove meses as minhas preocupações relativas à gravidez foram mudando consoante a fase da gestação, oscilando entre as insignificâncias do que é material e a ansiedade do que não podemos controlar.

 

1ª fase:

O teste dá positivo. Estará estragado? É mesmo verdade? Vou mesmo ser mãe? Deixa ver outra vez... vou orientar o candeeiro para aqui para ver melhor.

Nesse dia, andei com o teste na mala o dia todo. De vez em quando tirava-o, às escondidas, para ver de novo que mesmo quase invisível, a risca estava lá.

 

Os primeiros medos foram de que estivéssemos enganados e todos os dias o F perguntava se o período tinha dado sinais. Ele teve mais dificuldade em acreditar que eu. Ao fim de dois dias convenci-me e mesmo com ele pouco convicto ainda, contámos aos nossos pais.

 

2ª fase:

Não contámos a mais ninguém. Quer dizer... havia o blogue, mas por esta altura os familiares ainda não o conheciam. Acho que contei na escola a algumas colegas.

Porque o segundo medo foi que não se aguentasse (sobretudo depois do que aconteceu à Ana estar ainda tão fresco na minha memória) tudo era feito com cautela: não fazer esforços muito grandes, ter cuidado com o sítio onde se põe os pés (tenho horror a tralhos mas no verão de 2007 dei mais que muitos), observar minuciosamente o papel higiénico a ver se algo rosado ou vermelho aparecia...

Exactamente um mês após o teste positivo, apareceu o maldito cor-de-rosinha no papel. Nas urgências soubémos que estava tudo bem, mas não deixou de ser um alerta e ainda só estávamos nas (salvo erro) 8 semanas.

A primeira consulta com o que seria o nosso médico (2ª consulta na gravidez) tranquilizou-nos mais, com uma eco e exames pormenorizados, orientações para o futuro e uma segurança maior no que respeitava à viabilidade do nosso filho.

 

3ª fase:

De tudo o que mais me abalou nestes 9 meses, vou eleger os minutos que decorreram durante a ecografia das 12 semanas para o rastreio combinado. Temia aquelas medidas mais do que qualquer outra coisa. Não me importei com as análises de sangue, nada, era ali que o meu medo residia.

Não conhecia bem o médico, era apenas a segunda vez que o via. A expressão retraída sempre que se concentra num assunto fez com que me passasse tudo e mais alguma coisa pela cabeça.

De comum acordo tínhamos decidido (eu e o F) que não queríamos levar por diante uma gravidez que nos trouxesse um filho deficiente. Temos os nossos motivos e aqui não admito julgamentos, mas na verdade, depois de ver aquela eco, aquelas imagens, aquele "ser" que para todos os efeitos já era o NOSSO FILHO, juro que preferia morrer a ter de decidir se queria interromper a gravidez ou não.

Aquela expressão concentrada do médico enquanto eu via claramente que ele estava a observar e medir a TN ainda hoje me assombra o espírito, só tranquilizado com o sorriso dele quando perguntei se estava tudo bem.

Nada nos garante que está mesmo tudo bem, como ele nos disse, mas tanto quanto é possível prever através deste tipo de rastreios (que têm limitações), não há nada que indicie que o bébé tem problemas.

E nunca me esquecerei do que ele disse após eu me rir perante a contagem do número de dedinhos: "pois é, temos de nos concentrar em alguma coisa para não nos preocuparmos com as outras". Foi algo do género, que é bem verdade. Quando eles nascem perguntamos logo se tem todos os dedos das mãos e dos pés, mas... e o que interessa realmente?

Na verdade não interessa nada porque depois eles estão ali e faremos o que for preciso para que vivam, cresçam, sejam felizes: eles estão ali e nós amamo-los incondicionalmente na normalidade ou fora dela.

 

4ª fase:

Aqui começámos a ajeitar o ninho. Fiz listas onde acrescentei coisas, onde risquei outras, onde chateei tudo e todos com perguntas... e comecei a gastar dinheiro. Sempre com medo que algo faltasse à criancinha.

Inicialmente investigava na Internet para escolher o melhor produto, que oferecesse maior segurança, da melhor marca, ao melhor preço. Esta foi a preocupação do Verão e aí até ao meio da gravidez: compras, enxoval, necessidades materiais. E tudo para mais tarde perceber que sim, é verdade que faz falta muita coisa mas não necessitamos de todos os produtos com que as marcas nos assediam. E também não é preciso comprar tudo de grandes marcas. Neste campo é preciso racionalizar a questão e ter sempre presente que na verdade, os nossos filhos só nos pedem AMOR.

 

5ª fase:

A meio da gravidez, em pleno estágio, apanhei um susto. Não sabia o que era mas andei muitos dias a sentir-me muito mal, com muitas dores e cada ida para o Jardim-de-Infância estava a tornar-se um suplício, até porque as dores íam-se agravando de dia para dia.

Concentravam-se na parte baixa da barriga e de vez em quando sentia picadas horríveis como se me estivessem a enfiar uma faca de baixo para cima, o que me fazia a seguir sentir uma pressão enorme de cima para baixo.

Um dia cheguei ao J.I. contorcida, conduzida pelo F, pois já me tinha decidido a voltar para casa nesse dia. Fui apenas entregar uns materiais que preparei para as crianças trabalharem, mas nem era capaz de conduzir. Quando contei o que se estava a passar, a directora do J.I. assustou-me imenso e entrei num tal estado nervoso que comecei a chorar compulsivamente (não é de surpreender porque ela nunca jogou com o baralho completo...). Valeu-me a minha Educadora Cooperante que me acalmou os ânimos e me aconselhou a ir às urgências, com urgência mesmo. Fiquei ali um pouco com ela, o suficiente para ela sentir a minha barriga como um tijolo e dizer-me "são contracções, acontece, não te assustes".

Liguei ao médico e lá fomos. O Dr. Fofinho que estava nas urgências foi impecável, minorizou o assunto o que me tranquilizou, mas aqui apercebi-me da fragilidade do nosso corpo e da realidade dos bébés prematuros.

Tomei decisões que de certo modo me prejudicam bastante na escola, mas foi mais um modo de garantir o bem-estar do Eduardo e um resto de gravidez mais tranquila.

 

6ª fase:

Tudo o que era novidade me assustava: dói-me aqui, senti isto assim, assado... precisava sempre de uma resposta lógica para tudo. Sempre que o rapaz começava com soluços ficava triste porque achava que ele estava a sofrer. Sempre que me doía o diafragma, achava que ele podia estar a sofrer. Sempre que me pesava, achava que ele podia não estar a crescer.

 

7ª fase:

Comecei a pensar no parto. Aqui imaginava tudo e mais alguma coisa, mas queria mesmo era que não doesse. Bom... ainda quero. Sou muito medricas, muito sensível à dor e aterroriza-me relembrar as imagens que vi no youtube (bem sei... deveria ter-me ficado pelas imagens do 1º banho dos bébés, mas a curiosidade foi maior).

Por um lado (o meu lado racional de que tanto me gabo), queria muito um parto vaginal. Bom para o bébé, bom para mim, bom para a nossa carteira. Tenho a clara noção de que se foi assim que a natureza nos "programou" é porque é o melhor modo de parir.

Por outro lado (o meu lado maricas) deseja uma cesariana. Algo como: dão uma pica, fazem um corte, tiram o bébé, fecham o buraco e já está! (o que vale é que sei que as coisas não são assim, o que sempre me demoveu de eleger a cesariana a menos que seja totalmente necessário).

 

8ª fase:

A vida intra-uterina do Eduardo está prestes a acabar-se. E mais uma vez as minhas preocupações mudaram de rumo. Como será tê-lo aqui fora? Como será lidar com tudo o que aí vem e para a qual não temos nenhuma preparação? Como será lidar com a maternidade se nestas coisas não existem livros de receitas?

Depois interrogo-me se vou ter a paciência necessária, se daqui por uns tempos ainda vou querer ser mãe de três, se vou conseguir ultrapassar os primeiros tempos sem contrair uma depressão pós-parto (e para prevenir isso vou à psiquiatra assim que ele nascer).

Os pensamentos evoluem numa barra cronológica que me coloca primeiro perante um bébé, depois perante uma criança, um pré-adolescente, um adolescente, um jovem adulto... com tudo o que isso implica: amar, cuidar, proteger, libertar.

 

9ª fase:

Voltamos ao parto, mais concretamente a estas questões de intervir ou não... Deixar andar com todos os riscos que isso pode representar ou provocar, também com todos os riscos das induções.

Não gostava que o meu filho sentisse que o quero expulsar daqui de dentro, porque na verdade não quero, mas trata-se de o ter cá fora, algo palpável, visível, um ser que respira autonomamentesem precisar de mim para isso, que demonstra desejos, que emite sons, que expressa emoções e sentimentos, que é capaz de suscitar em mim um instinto que carrega uma força indescritível e incomparável com qualquer outra condição da natureza que não a de SER MÃE.

 

Nove meses, nove fases.

Obrigada por me acompanharem aqui, na minha vida, no meu coração.

 

sinto-me: Nostálgica
publicado por Su às 23:10
link do post | Leva-nos contigo
De susel a 12 de Fevereiro de 2009 às 10:18
E eu adoro acompanhar-te e vou adorar acompanhar a vossa vida a três, ou a quatro ou a cinco, eh, eh.
Beijocas
De Su a 12 de Fevereiro de 2009 às 10:29
E eu a tua...:P
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De
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