Não sei se isto acontece com todas as mulheres (ou pelo menos quando se trata do primeiro filho), mas notei que ao longo destes nove meses as minhas preocupações relativas à gravidez foram mudando consoante a fase da gestação, oscilando entre as insignificâncias do que é material e a ansiedade do que não podemos controlar.
1ª fase:
O teste dá positivo. Estará estragado? É mesmo verdade? Vou mesmo ser mãe? Deixa ver outra vez... vou orientar o candeeiro para aqui para ver melhor.
Nesse dia, andei com o teste na mala o dia todo. De vez em quando tirava-o, às escondidas, para ver de novo que mesmo quase invisível, a risca estava lá.
Os primeiros medos foram de que estivéssemos enganados e todos os dias o F perguntava se o período tinha dado sinais. Ele teve mais dificuldade em acreditar que eu. Ao fim de dois dias convenci-me e mesmo com ele pouco convicto ainda, contámos aos nossos pais.
2ª fase:
Não contámos a mais ninguém. Quer dizer... havia o blogue, mas por esta altura os familiares ainda não o conheciam. Acho que contei na escola a algumas colegas.
Porque o segundo medo foi que não se aguentasse (sobretudo depois do que aconteceu à Ana estar ainda tão fresco na minha memória) tudo era feito com cautela: não fazer esforços muito grandes, ter cuidado com o sítio onde se põe os pés (tenho horror a tralhos mas no verão de 2007 dei mais que muitos), observar minuciosamente o papel higiénico a ver se algo rosado ou vermelho aparecia...
Exactamente um mês após o teste positivo, apareceu o maldito cor-de-rosinha no papel. Nas urgências soubémos que estava tudo bem, mas não deixou de ser um alerta e ainda só estávamos nas (salvo erro) 8 semanas.
A primeira consulta com o que seria o nosso médico (2ª consulta na gravidez) tranquilizou-nos mais, com uma eco e exames pormenorizados, orientações para o futuro e uma segurança maior no que respeitava à viabilidade do nosso filho.
3ª fase:
De tudo o que mais me abalou nestes 9 meses, vou eleger os minutos que decorreram durante a ecografia das 12 semanas para o rastreio combinado. Temia aquelas medidas mais do que qualquer outra coisa. Não me importei com as análises de sangue, nada, era ali que o meu medo residia.
Não conhecia bem o médico, era apenas a segunda vez que o via. A expressão retraída sempre que se concentra num assunto fez com que me passasse tudo e mais alguma coisa pela cabeça.
De comum acordo tínhamos decidido (eu e o F) que não queríamos levar por diante uma gravidez que nos trouxesse um filho deficiente. Temos os nossos motivos e aqui não admito julgamentos, mas na verdade, depois de ver aquela eco, aquelas imagens, aquele "ser" que para todos os efeitos já era o NOSSO FILHO, juro que preferia morrer a ter de decidir se queria interromper a gravidez ou não.
Aquela expressão concentrada do médico enquanto eu via claramente que ele estava a observar e medir a TN ainda hoje me assombra o espírito, só tranquilizado com o sorriso dele quando perguntei se estava tudo bem.
Nada nos garante que está mesmo tudo bem, como ele nos disse, mas tanto quanto é possível prever através deste tipo de rastreios (que têm limitações), não há nada que indicie que o bébé tem problemas.
E nunca me esquecerei do que ele disse após eu me rir perante a contagem do número de dedinhos: "pois é, temos de nos concentrar em alguma coisa para não nos preocuparmos com as outras". Foi algo do género, que é bem verdade. Quando eles nascem perguntamos logo se tem todos os dedos das mãos e dos pés, mas... e o que interessa realmente?
Na verdade não interessa nada porque depois eles estão ali e faremos o que for preciso para que vivam, cresçam, sejam felizes: eles estão ali e nós amamo-los incondicionalmente na normalidade ou fora dela.
4ª fase:
Aqui começámos a ajeitar o ninho. Fiz listas onde acrescentei coisas, onde risquei outras, onde chateei tudo e todos com perguntas... e comecei a gastar dinheiro. Sempre com medo que algo faltasse à criancinha.
Inicialmente investigava na Internet para escolher o melhor produto, que oferecesse maior segurança, da melhor marca, ao melhor preço. Esta foi a preocupação do Verão e aí até ao meio da gravidez: compras, enxoval, necessidades materiais. E tudo para mais tarde perceber que sim, é verdade que faz falta muita coisa mas não necessitamos de todos os produtos com que as marcas nos assediam. E também não é preciso comprar tudo de grandes marcas. Neste campo é preciso racionalizar a questão e ter sempre presente que na verdade, os nossos filhos só nos pedem AMOR.
5ª fase:
A meio da gravidez, em pleno estágio, apanhei um susto. Não sabia o que era mas andei muitos dias a sentir-me muito mal, com muitas dores e cada ida para o Jardim-de-Infância estava a tornar-se um suplício, até porque as dores íam-se agravando de dia para dia.
Concentravam-se na parte baixa da barriga e de vez em quando sentia picadas horríveis como se me estivessem a enfiar uma faca de baixo para cima, o que me fazia a seguir sentir uma pressão enorme de cima para baixo.
Um dia cheguei ao J.I. contorcida, conduzida pelo F, pois já me tinha decidido a voltar para casa nesse dia. Fui apenas entregar uns materiais que preparei para as crianças trabalharem, mas nem era capaz de conduzir. Quando contei o que se estava a passar, a directora do J.I. assustou-me imenso e entrei num tal estado nervoso que comecei a chorar compulsivamente (não é de surpreender porque ela nunca jogou com o baralho completo...). Valeu-me a minha Educadora Cooperante que me acalmou os ânimos e me aconselhou a ir às urgências, com urgência mesmo. Fiquei ali um pouco com ela, o suficiente para ela sentir a minha barriga como um tijolo e dizer-me "são contracções, acontece, não te assustes".
Liguei ao médico e lá fomos. O Dr. Fofinho que estava nas urgências foi impecável, minorizou o assunto o que me tranquilizou, mas aqui apercebi-me da fragilidade do nosso corpo e da realidade dos bébés prematuros.
Tomei decisões que de certo modo me prejudicam bastante na escola, mas foi mais um modo de garantir o bem-estar do Eduardo e um resto de gravidez mais tranquila.
6ª fase:
Tudo o que era novidade me assustava: dói-me aqui, senti isto assim, assado... precisava sempre de uma resposta lógica para tudo. Sempre que o rapaz começava com soluços ficava triste porque achava que ele estava a sofrer. Sempre que me doía o diafragma, achava que ele podia estar a sofrer. Sempre que me pesava, achava que ele podia não estar a crescer.
7ª fase:
Comecei a pensar no parto. Aqui imaginava tudo e mais alguma coisa, mas queria mesmo era que não doesse. Bom... ainda quero. Sou muito medricas, muito sensível à dor e aterroriza-me relembrar as imagens que vi no youtube (bem sei... deveria ter-me ficado pelas imagens do 1º banho dos bébés, mas a curiosidade foi maior).
Por um lado (o meu lado racional de que tanto me gabo), queria muito um parto vaginal. Bom para o bébé, bom para mim, bom para a nossa carteira. Tenho a clara noção de que se foi assim que a natureza nos "programou" é porque é o melhor modo de parir.
Por outro lado (o meu lado maricas) deseja uma cesariana. Algo como: dão uma pica, fazem um corte, tiram o bébé, fecham o buraco e já está! (o que vale é que sei que as coisas não são assim, o que sempre me demoveu de eleger a cesariana a menos que seja totalmente necessário).
8ª fase:
A vida intra-uterina do Eduardo está prestes a acabar-se. E mais uma vez as minhas preocupações mudaram de rumo. Como será tê-lo aqui fora? Como será lidar com tudo o que aí vem e para a qual não temos nenhuma preparação? Como será lidar com a maternidade se nestas coisas não existem livros de receitas?
Depois interrogo-me se vou ter a paciência necessária, se daqui por uns tempos ainda vou querer ser mãe de três, se vou conseguir ultrapassar os primeiros tempos sem contrair uma depressão pós-parto (e para prevenir isso vou à psiquiatra assim que ele nascer).
Os pensamentos evoluem numa barra cronológica que me coloca primeiro perante um bébé, depois perante uma criança, um pré-adolescente, um adolescente, um jovem adulto... com tudo o que isso implica: amar, cuidar, proteger, libertar.
9ª fase:
Voltamos ao parto, mais concretamente a estas questões de intervir ou não... Deixar andar com todos os riscos que isso pode representar ou provocar, também com todos os riscos das induções.
Não gostava que o meu filho sentisse que o quero expulsar daqui de dentro, porque na verdade não quero, mas trata-se de o ter cá fora, algo palpável, visível, um ser que respira autonomamentesem precisar de mim para isso, que demonstra desejos, que emite sons, que expressa emoções e sentimentos, que é capaz de suscitar em mim um instinto que carrega uma força indescritível e incomparável com qualquer outra condição da natureza que não a de SER MÃE.
Nove meses, nove fases.
Obrigada por me acompanharem aqui, na minha vida, no meu coração.
. Será?
. Ser mãe pela primeira vez...
. O enxoval (reeditado a 3 ...
. Expecting Blogs
. Gravidário (sobre a gravidez da S.)
. Other Baby Blogs
. Crónicas de uma mãe atrapalhada
. Drikas
. Other Stuff
. Chicco
. A linguagem- desenvolvimento