O neonatologista P.S. foi falar connosco à sala do recobro. Pelo canto do olho via o Johny a escrevinhar no computador, via as enfermeiras a serenarem depois da azáfama do parto, via o meu bébé a gemer e nem me lembro do que o Dr. disse. Lembro-me que julgavam estar tudo bem. Foi então que chorei algumas lágrimas, que uma enfermeira doce limpou e que o levaram para a neonatologia. E mais uma vez fiquei ali...
Julgo que foi por esta altura que os avós o viram. Não é o que sonhamos. Pensei sempre que o F o levaria em braços para o apresentar aos nossos pais, mas em vez disso, passou dentro duma cixa de vidro, cheio de fios e sem os mimos do contacto humano.
Levaram-me para o quarto e recordo-me de passar por uma rapariga na urgência, de bata vestida, agarrada ao telemóvel e com um ar infeliz. Ainda me senti mais infeliz.
Não tive no corpo o frio que dizem que se sente depois de parir, mas tive-o na alma.
Já no meu quarto, tinha a sensação de ser noite profunda. Mas não era... era cedo ainda, oito e meia ou por aí. O F andava entre o quarto e a neonatologia, ate que assentou estandarte ali ao pé de mim: o nosso filho estava bem.
Não me lembro bem, mas o médico apareceu e deu-me autorização para comer e quando tivessem decorrido seis horas do parto, poderia levantar-me com ajuda da enfermeira.
Despedi-me dele e aguardei.
Sei que comi, não sei foi o quê. Sei que o tempo passou rápido, talvez tenha adormecido. Sei que chegou a meia noite e meia e eu só queria levantar-me e ver o meu bébé, pois apesar de estarmos separados apenas por escassos metros, a distância parecia-me ser de quilómetros.
Tiraram-me o catéter da anestesia, assim, arrancado à força. Fiquei danada e fartei-me de refilar (se o tivessem molhado com alcool, a cola não me arrancava o pêlo). Acho que a enfermeira não gostou do berro que mandei, mas isso era o que menos me importava porque não havia necessidade de fazer as coisas assim. Mas vá lá, não me demorou no processo de levantar, correu tudo bem e pude, enfim, ir tomar um banho.
Só via sangue a escorrer pelo ralo do duche e o banho teve tanto de reconfortante como de doloroso.
Vesti-me de lavado, já sem as roupas do hospital e fui com o F, finalmente, conhecer melhor o meu bébé: era lindo e perfeitinho.
Estava inconsolável, metia dó. A enfermeira C. da neonatologia pediu-me autorização para colocar uma chucha, coisa para a qual não estava muito pelos ajustes, mas tive tanta pena do bébé que achei que merecia aquele pequeno consolo, o único que lhe podia dar no momento.
Informaram-me que tinham acabado de o alimentar através de uma sonda e aguardavam a reacção. Se fosse positiva, no dia seguinte poderia inciar a mama. E ninguém me tira da cabeça que foi aqui que começaram os problemas com o meu leite materno.
Pudémos tocar-lhe, mas confesso que nem sabia bem como fazê-lo. Porque o que me apetecia era pegar-lhe, cheirá-lo, beijá-lo, agarrá-lo contra mim e não fazer umas festinhas como se fosse um gatinho envolto em mantas num cesto a quem fazemos uma festa na cabecita.
Apesar da minha tristeza, tive uma noite boa, a única em que dormi bem depois do nascimento dele.
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