Hoje tive um dia daqueles em que as horas parecem dias. Aconteceram muitas coisas e quando assim é, fico com a sensação de que as primeiras horas da manhã se encontram perdidas algures, nas folhas que já risquei do calendário.
Por partes:
-Saio de casa para a aula de Necessidades Educativas Especiais. Que dizer? É uma temática que nos interessa bastante porque é com os meninos "especiais" que temos as nossas dúvidas e inseguranças elevadas ao expoente máximo. Não é difícil amá-los. Nada mesmo. Mas é difícil "educá-los" e muito difícil integrá-los em grupos que por vezes não estão ainda preparados para os aceitar. Quando as aulas entram no esquema do debate, tornam-se ainda melhores.
-Vou almoçar. Como na carteira só tenho uma nota de 20 euros, desisto de tentar comprar uma senha para a cantina e almoço uma sanduíche e um chá. Não perdi muito porque durante estas férias, a empresa que detém a concessão do refeitório mudou a loiça toda, instituindo pires em vez de pratos, copos mais pequenos (devem estar com receio da conta da EPAL..) e umas tacinhas que parecem as molheiras do restaurante chinês do Bairro Azul.
Aproveito a hora de almoço para pôr a conversa em dia, que isto em três meses, acontecem muitas coisas: nascem sobrinhos, viaja-se, fazem-se compras, veêm-se filmes, conhecem-se pessoas, reencontram-se outras pessoas... É sempre assim o primeiro mês de aulas: o tempo não nos chega.
-Antes da aula seguinte, faço uma espécie de strip-tease porque as meninas querem ver a contusão que fiz na mama quanto espatifei o carro.
-Entro em Semináro e aviso a professora de que terei de sair a meio, mas que depois volto. Tenho consulta de Neurologia que não posso perder porque já não tenho medicamentos. Tenho de mostrar a negra da mama ao Johny antes que algumas pessoas tenham um ataque de nervos por causa da minha aparente negligência. Ela primeiro faz má cara (de quem diz "mas esta parva não tinha outra hora para a consulta?) mas quando ouviu as duas palavras (contusão e mama) na mesma frase, amenizou e disse-me que estivesse à vontade.
-Elaboro uma síntese reflexiva sobre o filme "être et avoir" que visionámos na última aula e, apesar do discurso rondar o poético, gostei do meu trabalho.
-Justamente quando estou a sair para o hospital, apercebo-me que vão distribuir os centros de estágio. Começo a tremer e até agora ainda estou agitada.
-Chego ao hospital, acelerada, com pressa de voltar e grata pelo meu dr. House não ser homem de atrasos. Receava era o tempo em que estaria à espera do Johny. Mas eis que o neurologista me surpreende e não chega a horas. Bolas. Trocam-se mensagens para saber como estão os ânimos na escola. Segue-se o "smsálogo":
Maria para mim: ficaste com manuela. Eu tb!
Eu para Maria: onde?
Maria para mim: ja digo
Eu para F: a minha tutora é a mulher do joão rosa. tou no hosp
Eu para Johny: Ola! Jà estou no hosp na neurologia mas parece que o dr. House ainda não chegou. Depois ja passo aì, ok? susana
Eu para Maria- Aiii, pertinho sff
Eu para Maria- A sara tb tem a manela?
Maria para mim- Si sara tb. Ja vai sair o sitio lol
Eu para Maria-Lol. Parece a lotaria. Lol
Maria para mim- Sim. Tas n msm sitio d ano passado. Cm ana mends e a eliana
Eu para Maria-Porra! Quem é eliana?
Eu para F- Lá vou levar com a **** novamente. Acho que preciso de ir à bruxa.. (não... não foi uma asneira que eu escrevi, mas não quero dizer o nome da senhora)
Maria para mim- A moca nova
Eu para Maria-E a ana mendes não refilou de ficar no mm sitio?
Maria para mim- Nao. Lol. Ficou td contente lol
Eu para Maria- É maluca!
Nisto sou chamada para o gabinete e a consulta decorre como sempre: rápida e eficaz. O médico é assim para o antipático, ou melhor, parece-me que tem uma grande falta de humor, mas fez o que até agora nenhum conseguiu: arranjar-me um tratamento eficaz. Passa-me receitas em triplicado, mede a tensão que está baixa mas tencionava era medir a pulsação que estava a 125. Pudera! Com os meus dedos a tamborilar em tudo o que é sítio e os pés a baterem ritmos acelerados, lá saí com a justificação de que não tomava o inderal há três dias, ah e tal... sendo assim, está bem. Volte cá no final do ano para iniciarmos o desmame.
Saio dali convencidíssima de que não vou fazer desmame nenhum. Que vou tentar. Mas que não vai resultar. Contudo aguardemos e digamos como "o outro": prognósticos só depois do jogo.
Acelero até ao outro bloco mas vejo o Johny sentado na magnífica tenda que a HPP teve a amabilidade de montar mesmo no meio do jardim para servir de bar, a degustar um dos magníficos cafés que servem habitualmente naquele bar (daqueles que trazem um brinde chamado "borras") e dirijo-me mas é para lá.
Depois de um interlúdio em que fui alvo de chacota por parte do meu ex-obstetra (e aqui interrogo-me sobre a curiosidade mórbida que o Homem tem quando o assunto são acidentes de viação e que tantas filas provoca por essas estradas fora), lá seguimos para o gabinete para mostrar a mamoca acidentada: menos mal, não é nada, está a curar-se, o sangue a ser reabsorvido pelo organismo. Obrigada e vou voar para a escola.
Mesmo a tempo :)
Mesmo a tempo de ver a malta sair do anfiteatro. Mesmo assim fui lá e deparei-me com as cenas habituais deste dia D: "ah e tal, poque eu moro em Freixo de Espada à Cinta e fui colocado na Meia Praia e a Maria ou o Manel moram na Meia Praia e foram colocados em Freixo de Espada à Cinta.
O assunto "trocas" ficou em águas de bacalhau e a coordenadora de curso lá me atendeu, debatendo nós o local do meu estágio bem como o da Mendes, pois não é suposto repetirmos instituições. Soube então que a tal senhora se reformou e que a minha antiga cooperante ocupou o cargo dela, pelo que as três salas disponíveis têm novas educadoras e assim não se repete nada. Menos mal. E curiosamente neste instante acalmei um pouco. E percebi que não me apetecia ficar com a mesma cooperante nem ter por directora a tal senhora.
Também defini com a coordenadora o meu plano de estágio, uma vez que terei de fazer um 2 em1, precisamente porque o ano passado a 2 em 1 era eu e não o pude concluir.
Pego no carro (o do meu pai, pois claro, que é quem apaga sempre os incêndios) e na Maria e rumamos em direcção à casa da minha progenitora para ir buscar a minha cria. Bem... aquele IC19 é um stress. Curioso é que só me apercebo verdadeiramente disso desde que o troquei pela A5 (mas dados os últimos acontecimentos, inclino-me a pensar que a A5, pelo menos até que termine esta saga eleitoral, anda muito semelhante ao IC19). Lá chegamos, finalmente, e a Maria nem quer acreditar no que vê: um rapagão giraço, meio ruivo, a quem ela chamava "bebé" e agora chama "dudu". Ele, como sempre, demonstrou o fascínio que tem por ela, acedendo mesmo à troca de colos, do avô paterno (a paixão dele) pelo da Maria (o seu affair de fim de tarde, digamos). Voltamos, deixo a Maria numa estação da CP (tecnicamente são da Refer, mas enfim) e não tenho muito mais para contar porque desde que cheguei a casa e até agora (meia noite em ponto), foram váras as vezes que interrompi a escrita deste post para colocar uma chucha e apaziguar um sono que tardava em vencer a grandessíssima birra temperada a gritos, lágrimas e soluços do meu pequeno tirano.
Depois olho para ele, esqueço-me dos momentos em que desespero e penso: é tão bom estar de volta...
. Será?
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